Frase da semana

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"Chegar ao topo de uma montanha, não significa vencer. Sair de um plano para estar em outro, apenas significa que a próxima rota é descer." - Miguel Minotti

domingo, 7 de fevereiro de 2016

Naquela vila, o velho e o garoto #1 - O amor do passado

Venho trazer nessa madrugada, a nova série aqui do blog, onde postarei pequenas histórias, que tem como objetivo explicar algo ou apenas sentir. Enfim, as histórias diferentes de todas as postagens, estarão em forma de prosa.

Naquela vila #1 - O amor do passado


                A tarde estava ensolarada, as folhas enchiam as calçadas. O outono pode ser a estação mais bela de todas. Dona Cida, conhecida por todos da vizinhança como uma avó, varria de sua calçada até as proximidades do parque que era o centro da vila. Era um dia como todos os outros.
                Ao avistar o velho sentado na praça, Arthur logo se dirigiu até lá, seria mais uma manhã de papos. Arthur sempre conversava com o velho na praça, ninguém sabia seu nome, e ninguém nunca se interessou o suficiente para perguntar. Ele morava por ali, era a única coisa que sabiam dele. O pequeno jovem em sua fase de criança para adolescente sempre prestava atenção nas palavras do experiente, que também gostava muito do garoto.
                - Ei velhote!
                - Olá meu jovem.
                - A manhã de hoje está mais fria que o normal.
                - Realmente, esse frio me lembra muitos outonos passados. Eu não sei o que aconteceu... esse deveria ser o clima padrão dessa estação. O tempo vai passando tudo vai mudando.
                - Você sempre diz isso!
                - A idade sempre me faz esquecer!
                O garoto riu, pegou uma pedra próxima ao banco e começou a jogá-la para cima, logo virando para o velho e retomando a conversa:
                - E então, o que tem para me contar hoje?
                - Hoje irei te ensinar a tocar um instrumento que fez parte de minha juventude!
                - O seu violão?
                - Sim rapaz, acertou em cheio!
                - Você sempre comenta dele, diz ser seu companheiro, principalmente nas épocas das aventuras.
                - As aventuras... tão distantes do tempo de hoje, a vida passa tão rápido. É como o amor, entra em seu coração, bagunça sua cabeça, mas quando vai embora sentimos uma saudade interminável! A vida passa, queremos que ela passe mais rápido para que as coisas cheguem em um ponto onde pensamos que tudo será como nos sonhos, mas no final não queremos deixa-la.
                - Suas clássicas frases velhote, de onde tira tantas delas?
                - A vida te ensina algumas, outras você encontra em algumas daquelas embalagens de bala.
                Os dois deram uma risada que era levada pelo vento do outono, para longe. O parque era vazio nesta hora da manhã, mas a vizinhança passava boa parte do tempo ali. Alguns conversavam, outros liam, crianças brincavam.
                - Velhote, nunca pensou em ficar famoso contando essas histórias suas, escrevendo livros ou algo parecido?
                - Claro, sempre pensei nisso, mas percebo que não é realmente algo que eu gostaria de ter, nem sempre gostar de algo pode significar correr atrás de fama com isso. Como disse, a vida passa muito rápido, você nem consegue pensar muito bem o que realmente quer, e quando percebe, não quis nada.
                - Você disse que a vida é como o amor, mas por que ele deve ir embora?
                - Nem todos possuem o amor para vida toda, muitas vezes cometemos erros que fazem com que ele vá embora, em outros casos, ele nos passa a perna para se afastar aos poucos.
                - Tem a ver com aquela moça que você sempre comenta, não é?
                - Você é bom em encaixar as peças jovem!
                - Você sempre me disse que tudo poderia dar certo, mas no final...
                - Sim, no final eu perdi a chance por esperar demais.
                - Você tem alguma ideia de onde ela esteja hoje?
                - Não. Mas não faria muita diferença, os tempos são outros, aquela época passou.
                - O outro rapaz que a pediu sua mão a fez feliz? Quer dizer, você acha que ele a fez feliz?
                - Não sei, provavelmente sim. Nós devemos saber que não somos únicos em bilhões de pessoas, mesmo que sejamos únicos para uma pessoa em bilhões.
                - No caso, você seria o único para ela caso tivesse...
                - Sim, eu seria o único, então não haveria mais ninguém como eu para os olhos dela. Mas provavelmente, o único para ela é outro, desde aqueles tempos, e isso não vai mudar.
                - Você me disse uma vez, a partir do momento que você recolhe seus sentimentos para uni-los com alguém, isso te torna único, e torna a outra pessoa única.
                - Sim, é exatamente isso.
                - Hoje não poderei ficar mais tempo, tenho que visitar minha avó no hospital, prometi a ela.
                - Pode ir garoto, aproveite enquanto seu tempo com ela é um tempo verdadeiro, e não de sonhos!
                - Até mais velhote!
                O garoto se levantou, e foi se distanciando aos poucos, até que o vento e as folhas eram as únicas coisas que estavam ao alcance dos olhos do velho, ele sorria, pensava nos tempos antigos, continuava pensando, as memórias eram tudo que restava para ele. Nessa vizinhança, todos possuem uma história, como em todas as outras, e como em todas as pessoas.

Miguel F. Minotti dos Santos

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