Venho trazer nessa madrugada, a nova série aqui do blog, onde postarei pequenas histórias, que tem como objetivo explicar algo ou apenas sentir. Enfim, as histórias diferentes de todas as postagens, estarão em forma de prosa.
Naquela vila #1 - O amor do passado
A tarde
estava ensolarada, as folhas enchiam as calçadas. O outono pode ser a estação
mais bela de todas. Dona Cida, conhecida por todos da vizinhança como uma avó,
varria de sua calçada até as proximidades do parque que era o centro da vila.
Era um dia como todos os outros.
Ao
avistar o velho sentado na praça, Arthur logo se dirigiu até lá, seria mais uma
manhã de papos. Arthur sempre conversava com o velho na praça, ninguém sabia
seu nome, e ninguém nunca se interessou o suficiente para perguntar. Ele morava
por ali, era a única coisa que sabiam dele. O pequeno jovem em sua fase de
criança para adolescente sempre prestava atenção nas palavras do experiente,
que também gostava muito do garoto.
- Ei
velhote!
- Olá
meu jovem.
- A
manhã de hoje está mais fria que o normal.
-
Realmente, esse frio me lembra muitos outonos passados. Eu não sei o que
aconteceu... esse deveria ser o clima padrão dessa estação. O tempo vai
passando tudo vai mudando.
- Você
sempre diz isso!
- A
idade sempre me faz esquecer!
O
garoto riu, pegou uma pedra próxima ao banco e começou a jogá-la para cima,
logo virando para o velho e retomando a conversa:
- E
então, o que tem para me contar hoje?
- Hoje
irei te ensinar a tocar um instrumento que fez parte de minha juventude!
- O seu
violão?
- Sim
rapaz, acertou em cheio!
- Você
sempre comenta dele, diz ser seu companheiro, principalmente nas épocas das
aventuras.
- As
aventuras... tão distantes do tempo de hoje, a vida passa tão rápido. É como o
amor, entra em seu coração, bagunça sua cabeça, mas quando vai embora sentimos
uma saudade interminável! A vida passa, queremos que ela passe mais rápido para
que as coisas cheguem em um ponto onde pensamos que tudo será como nos sonhos,
mas no final não queremos deixa-la.
- Suas
clássicas frases velhote, de onde tira tantas delas?
- A
vida te ensina algumas, outras você encontra em algumas daquelas embalagens de
bala.
Os dois
deram uma risada que era levada pelo vento do outono, para longe. O parque era
vazio nesta hora da manhã, mas a vizinhança passava boa parte do tempo ali.
Alguns conversavam, outros liam, crianças brincavam.
-
Velhote, nunca pensou em ficar famoso contando essas histórias suas, escrevendo
livros ou algo parecido?
- Claro,
sempre pensei nisso, mas percebo que não é realmente algo que eu gostaria de
ter, nem sempre gostar de algo pode significar correr atrás de fama com isso. Como
disse, a vida passa muito rápido, você nem consegue pensar muito bem o que
realmente quer, e quando percebe, não quis nada.
- Você disse
que a vida é como o amor, mas por que ele deve ir embora?
- Nem
todos possuem o amor para vida toda, muitas vezes cometemos erros que fazem com
que ele vá embora, em outros casos, ele nos passa a perna para se afastar aos
poucos.
- Tem a
ver com aquela moça que você sempre comenta, não é?
- Você
é bom em encaixar as peças jovem!
- Você
sempre me disse que tudo poderia dar certo, mas no final...
- Sim,
no final eu perdi a chance por esperar demais.
- Você
tem alguma ideia de onde ela esteja hoje?
- Não.
Mas não faria muita diferença, os tempos são outros, aquela época passou.
- O
outro rapaz que a pediu sua mão a fez feliz? Quer dizer, você acha que ele a
fez feliz?
- Não
sei, provavelmente sim. Nós devemos saber que não somos únicos em bilhões de
pessoas, mesmo que sejamos únicos para uma pessoa em bilhões.
- No
caso, você seria o único para ela caso tivesse...
- Sim,
eu seria o único, então não haveria mais ninguém como eu para os olhos dela.
Mas provavelmente, o único para ela é outro, desde aqueles tempos, e isso não
vai mudar.
- Você
me disse uma vez, a partir do momento que você recolhe seus sentimentos para
uni-los com alguém, isso te torna único, e torna a outra pessoa única.
- Sim,
é exatamente isso.
- Hoje
não poderei ficar mais tempo, tenho que visitar minha avó no hospital, prometi a
ela.
- Pode
ir garoto, aproveite enquanto seu tempo com ela é um tempo verdadeiro, e não de
sonhos!
- Até
mais velhote!
O
garoto se levantou, e foi se distanciando aos poucos, até que o vento e as
folhas eram as únicas coisas que estavam ao alcance dos olhos do velho, ele
sorria, pensava nos tempos antigos, continuava pensando, as memórias eram tudo
que restava para ele. Nessa vizinhança, todos possuem uma história, como em
todas as outras, e como em todas as pessoas.
Miguel F. Minotti dos Santos
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